O que pode a comunicação fazer pela promoção da saúde ambiental?

O ciclo de primavera 2019 das ISAMB exploratory conferences terminou este mês. Dedicado ao tema da comunicação, reuniu três conferencistas de excelência nas áreas da comunicação, dos estudos de mercado e de opinião, e do jornalismo. Mais de uma centena de pessoas marcou presença neste ciclo que certamente fez surgir muitas perguntas para além da inicial.

O tema da comunicação deu movimento ao ciclo de primavera 2019 das ISAMB exploratory conferences, uma iniciativa do Instituto de Saúde Ambiental que, através da reunião de investigadores, professores e profissionais de diferentes saberes, contribui para a promoção de cruzamentos disciplinares.

E porquê a comunicação? Porquê falar sobre um tema que aparenta ser tão banal? Ainda por cima, uma palavra já de si gasta, aliás, desgastada pelo tempo e pelo seu uso recursivo num amplo espectro de domínios. Ademais, achamos nós, comunicar é tudo aquilo que fazemos desde o momento em que acordamos até ao momento em que nos deitamos. Neste contexto, o que pode a comunicação, afinal, fazer pela promoção da saúde ambiental? E como o pode fazer? E porque o deve fazer?

Para este ciclo convidámos três especialistas na matéria para que partilhassem connosco a sua experiência de uma vida dedicada ao tema da comunicação. Em Abril, Luís Veríssimo, especialista em comunicação estratégica, veio dizer-nos que, por um lado, comunica-se para pessoas e que, por outro, se se pretende uma comunicação eficiente e eficaz, isto é, uma comunicação que acerte no nervo do público, que «o faça parar e pensar, no dia-a-dia, nem que seja por cinco segundos antes de dormir». Dito de outro modo, é preciso planear, estrategicamente, é preciso saber com que objectivo se comunica, o que se comunica e se aquilo que se pretende comunicar interessa a quem se destina a comunicação. Caso contrário, o que temos é apenas emissão de informação.

Em Maio, Carlos Liz, um homem da «perguntação», que começou a trabalhar em estudos de mercado e de opinião dois anos antes de 1974, num tempo em que perguntar implicava, digamos, um esforço para não fazer a pergunta «errada», mostrou-nos um interessantíssimo mapa das métodos de «perguntação» e o modo como perguntar, não só não ofende, como constitui um passo importante no processo de comunicação aos muitos públicos que se interessam por saúde ou saúde ambiental.

Finalmente, em Junho, António Granado, jornalista e professor de jornalismo e de comunicação de ciência, alertou-nos para a crise que os media atravessam e o modo como essa crise afecta, ou melhor, tem vindo a afectar a comunicação de ciência. Considerados os guardiões, quer dizer, os intermediários entre a informação que lhe chegava às mãos e a sua comunicação ao público, aos jornalistas era-lhes exigido, por um lado, que verificassem a informação e, por outro, que produzissem textos jornalísticos atraentes e compreensíveis pelo público-leitor. Os tempos são outros são outros, com o jornalismo em crise. António Granado considera que, perante este cenário de desintermediação, a ciência tem ao seu dispor diversas formas de continuar a fazer passar a sua mensagem à sociedade.

Neste contexto, o que pode, então, a comunicação fazer pela promoção da saúde ambiental? Comunicação de ciência, ou de saúde, ou de saúde ambiental, ou de outra coisa qualquer, é antes de tudo comunicação. E esta é, e sempre foi, e sempre será, a procura da relação e da partilha com o Outro. Conhecendo-o tal como ele é, revelando a sua identidade, calculando a sua densidade, indo ao seu encontro, incluindo daqueles que estão mais afastados da ciência. O que pode a comunicação fazer pela promoção da saúde ambiental? O que quisermos. O que pudermos. Basta estarmos dispostos a ouvir, a conhecer, enfim, a recomeçar.

Ricardo R. Santos
Coordenador do ciclo de primavera 2019