Um terço dos alunos e metade dos professores apresentam sintomas de ansiedade ou depressão. Esta é a principal conclusão de um estudo encomendado pelo Ministério da Educação a um grupo de especialistas, que contou com a participação de investigadores do Instituto de Saúde Ambiental
O objetivo era obter um retrato do bem-estar psicológico das crianças e adolescentes em idade escolar e dos seus professores. No total, foram inquiridos 8067 alunos e 1453 professores. Os resultados não são surpreendentes, mas preocupam. Cerca de um terço dos alunos e pelo menos metade dos professores revela sintomas de sofrimento psicológico. A pandemia de COVID-19 continua a ser percecionada como tendo tido um efeito negativo na saúde, com 34,3% dos alunos e 68,6% dos professores a referirem que a vida na escola ficou pior ou muito pior.
Para Margarida Gaspar de Matos, psicóloga e coordenadora do estudo, «muitos destes resultados estavam já identificados em outros estudos e as ações necessárias também». Talvez a grande diferença, aqui, seja o compromisso do Ministério da Educação em implementar as medidas que são recomendadas «com carácter de urgência», sublinha o relatório. A começar com a definição, por cada escola, de uma estratégia integrada de promoção de competências socioemocionais e da saúde psicológica de todos os habitantes do ecossistema escolar.
A experiência ajuda?
Entre alunos e professores, há algo que é comum. À medida que o tempo passa, observa-se uma tendência de agravamento dos sintomas de sofrimento psicológico: nos alunos, com a evolução na escolaridade, da pré-escola ao 12.º ano; nos professores, o tempo de serviço. Também em ambos os casos, o género feminino revela maior vulnerabilidade. Por sua vez, a perceção de situações de bullying é menor em alunos mais velhos do que em mais novos.
Embora seja ainda necessário avaliar as variações regionais, os resultados obtidos apontam para duas abordagens: uma ao nível da intervenção, no sentido de diminuir o sofrimento psicológico, em particular dos mais vulneráveis, e outra ao nível da promoção, sobretudo de competências socioemocionais. A par destas abordagens, revela-se essencial a definição de um sistema de monitorização e avaliação regular da saúde psicológica de toda a comunidade escolar, bem como a construção de alianças entre todos os atores, que seja capaz de antecipar necessidades e vulnerabilidades, de modo que as intervenções sejam dirigidas e eficazes.
O que fazer?
Na opinião do psicólogo Osvaldo Santos, que integrou a equipa de investigação, «a escola é um lugar privilegiado para promover competências socioemocionais» e isso passa pela «sensibilização para a importância do reconhecimento de sinais de sofrimento, pela promoção da literacia sobre ferramentas de autocuidado e pela promoção de coesão social». Ainda assim, subsiste a dúvida quanto ao modo como a urgência pode ser concretizada em medidas que tenham um impacto imediato, ou seja, que possam dar uma resposta àqueles que estão, neste momento, em sofrimento psicológico.
Seja como for, «é importante que a Escola integre o mais possível, no seu processo educativo, temas de maior vulnerabilidade e interesse por parte dos jovens», afirma Osvaldo Santos. «O envolvimento dos encarregados de educação, promovendo uma participação ativa na discussão de temas centrais que se associam a potencial sofrimento psicológico, é também fundamental», acrescenta. Para já, o diagnóstico está feito. Segue-se o tempo da política e das suas decisões.