A União Europeia disponibiliza, todos os anos, 150 milhões de euros para a distribuição de frutas e produtos hortícolas nas escolas. Até 2023, Portugal irá receber mais de 17 milhões para este fim. Porém, segundo a nutricionista Raquel Martins, «a utilização da verba, que está disponível desde 2017, não ultrapassou ainda os 50%». Para a investigadora do Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, a não utilização destes fundos, «possivelmente por desconhecimento da sua existência», pode explicar a não disponibilização de frutas e legumes nas escolas, o que dificulta a construção de hábitos de consumo destes produtos alimentares.
O acesso a fruta gratuita é, em si mesmo, um facilitador do consumo. De acordo com o estudo que acaba de ser apresentado, Bragança, por exemplo, foi o segundo distrito em que as turmas tiveram um menor acesso gratuito a frutas e hortícolas e foi o distrito em que se registou um aumento da percentagem de crianças que não consome fruta diariamente. Em contraponto, «Évora foi o distrito em que uma maior percentagem de crianças passou a consumir frutas e legumes, mas foi também um dos distritos a reportar maior acesso a fruta ou legumes de forma gratuita», refere Raquel Martins.
Ainda de acordo com o estudo, que analisou os resultados referentes ao ano lectivo 2021-22, Faro foi o distrito onde se verificou a maior percentagem de turmas com acesso a fruta gratuita na escola (92,9%), seguindo-se Braga (83,0%), Santarém (78,1%), Évora (70,8%) e Viseu (68,0%). As percentagens mais pequenas situaram-se em Viana do Castelo (9,1%), Bragança (20,0%) e Portalegre (35,7%).
Consumo de fruta e hortícolas reduz o risco de obesidade
Em 2019, 29,7% das crianças entre os 6 e os 8 anos apresentavam excesso de peso, das quais cerca de 12% viviam com obesidade. «A obesidade», esclarece a nutricionista, «é uma das doenças crónicas mais prevalentes em idade pediátrica, e o que os estudos nos têm mostrado é que o consumo de frutas e hortícolas está associado a um menor risco de obesidade». Assim, o acesso a fruta gratuita não apenas promove o consumo como também reduz o risco de obesidade.
A iniciativa Heróis da fruta®, promovida pela Associação Portuguesa Contra a Obesidade Infantil, tem justamente como finalidade contribuir para o aumento do consumo de frutas e legumes na infância. Criada em 2011, já contou com a participação de mais de meio milhão de crianças com resultados bastante positivos. No ano lectivo 2021-22, registou-se um aumento de 15,8% no número de crianças a comer fruta ou legumes nas escolas todos os dias.
Distribuir gratuitamente fruta e legumes é suficiente?
A disponibilização de fruta gratuita é necessária, mas não é suficiente. Raquel Martins adverte que «o acesso gratuito tem de ser complementado com estratégias que sensibilizem as crianças para a adoção de hábitos alimentares saudáveis, incluindo as famílias».
Na verdade, a própria iniciativa Heróis da fruta® foi desenhada no sentido de combinar materiais educativos protagonizados por um grupo inspirador de personagens-modelo que ganham «superpoderes» através da ingestão de alimentos saudáveis e técnicas de educação não-formal como storytelling ou gamification.
Heróis da fruta® põe crianças a comer fruta e legumes
O estudo de efectividade da iniciativa Heróis da fruta® é da responsabilidade do Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. No ano lectivo 2021-22 participaram nesta iniciativa escolar perto de 78 mil alunos de cerca de 1800 estabelecimentos escolares espalhados por todo o país. Para o estudo, foram analisados dados de 16 970 crianças entre os 2 e os 14 anos de 845 turmas de 433 estabelecimentos ensino.
Globalmente, «após a participação na iniciativa Heróis da fruta®, a percentagem de alunos que não consumia diariamente fruta ou legumes na escola diminuiu de 19,6% para 6,9%», informa a nutricionista. De facto, verificou-se uma redução do consumo diário de lanches escolares pouco saudáveis em quase todos os distritos e regiões, com excepção da Madeira e de Portalegre.
A edição de 2022-23 está já em marcha. Pode participar neste desafio qualquer turma de nível de ensino pré-escolar ou de 1.º ciclo do ensino básico de Portugal continental e regiões autónomas, de estabelecimentos públicos ou privados. A data-limite é 31 de Dezembro de 2022. Saiba mais aqui.