No dealbar da Primavera, a Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, acolheu o I Encontro do Instituto de Saúde Ambiental (ISAMB). Num dia pintado de laranja, motivado pela poeira vinda do deserto do Saara, as duas estruturas piramidais feitas de betão pigmentado a vermelho, projectadas pelo arquiteto Eduardo Souto de Moura, marcaram a paisagem de um dia reservado à construção da relação, simbolizada pelos dois abelharucos que assumiram o rosto do encontro. Daniel Salvador, biólogo e investigador do ISAMB, doutorado no âmbito do Programa de Doutoramento Empresarial FCT em Saúde Ambiental, considera que «este encontro é fundamental para reunirmos áreas e reunirmos consensos e possíveis colaborações, e até para conhecermos o trabalho que foi sendo feito ao longo destes últimos anos no ISAMB».
Manuel Sobrinho Simões, Professor Emérito da Universidade do Porto e Director do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP), foi o convidado de honra, tendo inaugurado a sessão com uma conferência subordinada ao tema Cultura, ambiente e cancro, genes à parte. Para o médico, que foi considerado em 2015 o patologista mais influente do mundo pela revista The Pathologist, o facto de haver no «ISAMB a ligação entre a Saúde Pública e os aspectos ambientais, a multidisciplinaridade por um lado, a interdisciplinaridade por outro, a capacidade de ligar biólogos com psicólogos, é um exemplo em Portugal muito raro, portanto, chapeau!».
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O ISAMB agrega mais de 150 investigadores provenientes de diferentes áreas, desde a biologia, a bioquímica, a genética, as ciências farmacêuticas, a toxicologia, passando pela medicina, a enfermagem, a saúde pública, a nutrição, até à psicologia, a sociologia, a geografia, a arquitetura. Com efeito, o ISAMB é, por natureza, um lugar multidisciplinar onde se faz trabalho interdisciplinar com benefício para a sociedade. A este respeito, Paulo Navarro-Costa, biólogo e investigador do ISAMB, recorda que, «com base nos desafios que nós, enquanto sociedade, temos encontrado nestes últimos tempos, as soluções que devemos procurar encontram-se precisamente no ponto de intersecção entre diferentes áreas de saber e diferentes abordagens técnicas e experimentais».
Criado em 2013, uma das formas de o ISAMB evidenciar a sua relevância é através da sua produtividade, isto é, do seu contributo para o sistema de conhecimento. Em 2021, segundo o Relatório de Actividades FMUL, das 67 unidades estruturais da Faculdade Medicina da Universidade de Lisboa, o ISAMB assume a primeira posição em publicações, orientação de dissertações e teses, de projectos financiados pela Comissão Europeia e patentes internacionais. Ao nível da formação contínua, 22% dos cursos foram organizados pelo ISAMB, tendo estes captado cerca de 140 inscritos, o que corresponde a 43% dos inscritos em todos os 18 cursos que ocorreram em 2021.
Para além do desafio da multidisciplinaridade e da interdisciplinaridade, o ISAMB tem vindo a trabalhar no desenvolvimento de um conceito novo, mais actual, de Saúde Ambiental, pelo que «para muitos dos profissionais de saúde, que são também investigadores do ISAMB, ouvirem o que é que cada um dos grupos de investigação está a fazer é importante para fazer aqui um cross-feeding, numa articulação e uma produção de ideias comuns que podem surgir e que podem depois conduzir a projectos de investigação muito interessantes», diz Osvaldo Santos, psicólogo clínico e coordenador do EnviHeB Lab/ISAMB.
Do programa fez parte a apresentação dos grupos de investigação e dos laboratórios pelos seus respectivos coordenadores, e ainda do Laboratório Associado TERRA, do qual o ISAMB faz parte. Teresa Ferreira, professora catedrática do Instituto de Agronomia e coordenadora do TERRA, fez uma apresentação da visão e da estrutura de investigação deste laboratório financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, que se dedica ao uso sustentável da terra e dos ecossistemas. Com mais de 400 investigadores, para além do ISAMB, o TERRA conta com outras quatro unidades de investigação da Universidade de Lisboa e da Universidade de Coimbra.
O I Encontro de Primavera do ISAMB contou com o apoio da Nippon Gases Portugal.