Saúde de mulheres portuguesas é mais afectada pela insegurança alimentar

Embora a prevalência de insegurança alimentar seja baixa na população portuguesa (10,1%) e na população de imigrantes (10,7%), as mulheres portuguesas com idade superior a 50 anos e não casadas são o grupo mais vulnerável. Esta é a principal conclusão do estudo publicado no passado dia 2 de Janeiro, na revista científica Food Security.

Liderado por Violeta Alarcão, investigadora no Instituto de Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina de Lisboa e no ISCTE-IUL, o estudo procurou descrever e comparar a prevalência, em Portugal, de insegurança alimentar entre populações portuguesa e de imigrantes, bem como explorar os determinantes de saúde a ela associados. Neste contexto, a insegurança alimentar refere-se a uma situação em que, por motivos socioeconómicos, o acesso a alimentos suficientes e/ou de qualidade nutricional é escasso ou inexistente.

Neste sentido, no que diz respeito à insegurança alimentar, os resultados mostram que não existem diferenças significativas entre a população portuguesa e a população de imigrantes. Porém, a associação entre insegurança alimentar e o estado civil apresentam uma interacção significativa no caso da população portuguesa, em particular nas mulheres não casadas, cuja probabilidade de não terem capacidade de aceder a alimentos suficientes e/ou de qualidade nutricional aumenta em 56%. Por seu turno, na população de imigrantes, esta interacção funciona como um factor protector, diminuindo em 72% a probabilidade de insegurança alimentar. Em ambas as populações verificou-se que baixos rendimentos familiares e baixo nível de escolaridade constituem os principais factores associados à insegurança alimentar.

Em termos de impacto na saúde, o estudo aponta para uma possível associação entre insegurança alimentar, auto-percepção do estado de saúde e doenças auto-relatadas. Dito de outro modo, o grupo de pessoas com um maior nível de insegurança alimentar é também aquele que relata ter mais doenças e uma pior percepção da sua própria condição de saúde. A prevalência de doenças do coração, doenças gastrointestinais e depressão é significativamente superior na população portuguesa com maior insegurança alimentar do que na população de imigrantes. No caso desta, apenas as doenças gastrointestinais surgem associadas, de um modo significativo, à insegurança alimentar.

Os investigadores sugerem que, para além da necessidade de se efectuarem mais estudos, sejam desenvolvidas políticas inter-sectoriais que tenham em conta os determinantes socioeconómicos de insegurança alimentar, de modo a reduzir as desigualdades sociais, com especial foco na população de mulheres portuguesas com mais de 50 anos de idade e não casadas.

Fonte: Violeta Alarcão, Sofia Guiomar, Andreia Oliveira, Milton Severo, Daniela Correia, Duarte Torres, Carla Lopes (2020), Food insecurity and social determinants of health among immigrants and natives in Portugal. Food Security. https://doi.org/10.1007/s12571-019-01001-1