Desafios às instituições de saúde: o papel da liderança e governança

O Ciclo de Outono das Conferências Exploratórias do ISAMB terminou em Dezembro. Ao longo de três sessões, houve a oportunidade de se discutir o papel da liderança e governança na sustentabilidade das organizações de saúde, bem como a relevância destes processos para o trabalho em equipa.

As instituições de saúde enfrentam inúmeros desafios, que podem resultar de alterações demográficas, avanços científicos e tecnológicos, de períodos de crescimento ou abrandamento da economia, entre muitos outros factores. Assim, uma das questões que se coloca é como podem as organizações tornar-se mais competitivas e sustentáveis em, por exemplo, contextos de imprevisibilidade? A resposta a esta pergunta foi avançada logo na primeira sessão do Ciclo de Outono, pela intervenção da Dr.ª Carla Gonçalves Pereira, CEO da SInASE, num espaço dedicado à governação inteligente, apresentada como um novo modelo de governação para a saúde. De forma muito breve, a governação inteligente assenta na gestão dirigida para a saúde e bem-estar da comunidade, envolvendo, activamente, o cidadão na decisão. É ainda importante mencionar que a tecnologia e inovação assumem um papel de relevo neste modelo. Smart cities, com unidades de saúde também smart, com ambientes de realidade virtual que permitem a interacção médico-doente em ambientes físicos diferentes são já uma realidade nalguns países.

Governança e liderança na sustentabilidade e desenvolvimento das organizações de saúde foi o tema a discussão em Novembro, pelo Eng.º Luís Alves Monteiro, ex-Presidente Executivo do Conselho de Administração do Hospital de Santa Maria. Numa sessão em que a teoria foi complementada com a experiência vivida no maior hospital universitário do país, o Eng.º Alves Monteiro defendeu a centralização da informação da história clínica dos doentes a nível nacional num sistema que combine, simultaneamente, dados do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e do sector privado. Se implementada, esta medida representaria a redução de gastos directos e indirectos com a saúde, no acesso, por exemplo, a técnicas complementares de diagnóstico, ao mesmo tempo que contribuiria para aproximar o SNS a um sistema que responde de forma mais eficaz às necessidades específicas dos cidadãos.

O Ciclo de Outono encerrou com o Doutor Pedro Marques-Quinteiro, Professor Auxiliar no Departamento de Psicologia Social e das Organizações (ISPA- Instituto Universitário), numa sessão sobre o papel da auto-liderança em ambientes de imprevisibilidade. A auto-liderança é um processo em que o indivíduo usa um conjunto de estratégias comportamentais, cognitivas e emocionais, no sentido de desenvolver a motivação necessária ao desempenho das suas funções de forma eficaz e eficiente, independentemente das condições serem mais ou menos adversas. Estudos recentes apontam para uma associação entre a auto-liderança e níveis mais elevados de inovação Mostram também que este processo é resiliente em ambientes de imprevisibilidade e perante comportamentos tóxicos dos pares e superiores hierárquicos. Algumas técnicas para o treino da auto-liderança incluem a definição de metas e objectivos, a criação de lembretes e a comemoração de cada meta atingida através da definição de um sistema de recompensas.

As Conferências Exploratórias do ISAMB regressam em Abril. O mote para o próximo Ciclo de Primavera é Ciência e Arte, sendo este coordenado pelo Doutor Paulo Navarro-Costa, investigador do ISAMB e do Instituto Gulbenkian de Ciência. Em breve, será disponibilizado o programa do novo Ciclo e, como sempre, contamos consigo!

Francisco Antunes e Joana Costa
Coordenadores do Ciclo de Outono das Conferências Exploratórias do ISAMB

 

Dr.ª Carla Gonçalves Pereira                                                          Eng.º Luís Alves Monteiro                                                     Doutor Pedro Marques-Quinteiro