Se os avanços médicos permitiram, em menos de dois séculos, duplicar a esperança média de vida, por que razão continuamos a não ser capazes de evitar o declínio acentuado da fertilidade feminina a partir dos 35 anos?
No seu mais recente artigo para a revista oficial da Sociedade Americana de Medicina da Reprodução (ASRM), Paulo Navarro-Costa, cientista do Instituto Gulbenkian de Ciência e membro do ISAMB, aborda mecanismos evolutivos responsáveis pelo envelhecimento reprodutor feminino.
“A medicina evolutiva introduz uma dimensão temporal aos processos moleculares, celulares e fisiológicos que formam a base do nosso conhecimento sobre o corpo humano. Dessa forma, começamos a olhar a saúde e a doença não como pontos isolados no tempo, mas como o resultado de uma complexa interação que se tem desenrolado ao longo de milhares de anos entre o organismo e o ambiente”, explica Paulo Navarro-Costa.
O autor argumenta ainda que, no caso da reprodução, a interacção organismo-ambiente restringiu temporalmente a capacidade fértil da mulher não só para evitar competição entre mães mais novas e mais velhas, como também para assegurar um apoio mais prolongado à sua descendência.“Conjugar as consequências destes mecanismos evolutivos com a realidade cultural da sociedade moderna, e saber em que medida os fatores ambientais poderão influenciar estes processos, são atualmente alguns dos maiores desafios da medicina da reprodução”, conclui Paulo Navarro-Costa.