Efeitos da eliminação do VHC na doença hepática e no perfil cardiometabólico

O projecto da Dr.ª Joana Freitas, aluna do Programa Doutoral em Saúde Ambiental, EnviHealth&Co, sob orientação da Prof.ª Doutora Maria de Fátima Serejo (Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa), Prof.ª Paula Faustino (Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge) e Prof. Doutor Manuel Bicho (Centro de Electroencefalografia e Neurofisiologia Clínica, Lda.), enquadra-se na área da susceptibilidade genética e bioquímica para o desenvolvimento e progressão de doenças multifactoriais.

Tratando-se de um Doutoramento em ambiente empresarial, a Dr.ª Joana Freitas conta com o apoio da empresa de acolhimento Centro de Electroencefalografia e Neurofisiologia Clínica, Lda. (CENC) para a realização do seu projecto. Conta ainda com a colaboração do Instituto de Investigação Científica Bento da Rocha Cabral que disponibiliza alguns equipamentos indispensáveis aos estudos genéticos e bioquímicos propostos.

A infecção pelo vírus da hepatite C (VHC) resulta em manifestações hepáticas (fibrose e esteatose) e extra-hepáticas (doenças cardiovasculares, sobrecarga de ferro, resistência à insulina, diabetes mellitus, insuficiência renal, etc) dependentes do vírus, do hospedeiro e do ambiente.

Vários estudos demonstram maior taxa de mortalidade por causas extra-hepáticas em doentes com hepatite C crónica quando comparados com a população geral. Estas comorbilidades aumentam também o risco de cirrose e carcinoma hepatocelular.
Um tratamento antiviral precoce e eficaz poderá ter um impacto significativo na saúde pública, diminuindo todas estas complicações, contribuindo para a redução do risco cardiometabólico e, consequentemente, da taxa de mortalidade.
Os antivirais de acção directa (DAAs) tornaram o tratamento do VHC mais rápido e eficiente, eliminando o vírus em mais de 95% dos doentes tratados. No entanto, existem poucos estudos que avaliem os efeitos da eliminação do VHC na gravidade posterior da doença hepática e no perfil cardiometabólico.

Os objectivos deste projecto passam por determinar se a eliminação do VHC altera a gravidade da doença hepática e parâmetros cardiometabólicos e identificar factores sociodemográficos, antropométricos, comportamentais, ambientais, bioquímicos e genéticos que modulem/afectem estas alterações. Para tal, está a ser realizado um estudo prospectivo longitudinal e multicêntrico, incluindo cerca de 100 doentes com hepatite C crónica e com indicação para tratamento com DAAs. Estes são sujeitos a uma avaliação clínica detalhada, antes e depois do tratamento antivírico, que incluirá avaliação hepática, cardiovascular e nutricional, bem como parâmetros sociodemográficos, antropométricos, comportamentais, ambientais, bioquímicos e genéticos.

Os resultados deste estudo poderão ajudar a clarificar os mecanismos fisiopatológicos da interacção entre o VHC e as manifestações cardiometabólicas, e contribuir para a optimização dos cuidados de saúde e do acompanhamento clínico dos doentes tratados para a infecção pelo VHC. Para além disso, poderá representar um benefício potencial para os doentes que terão uma avaliação clínica mais detalhada contribuindo, através da educação para a saúde, para a modificação de comportamentos e para a prevenção de complicações futuras. Com este trabalho poderão também surgir novas abordagens terapêuticas que permitam melhorar a sobrevida e a qualidade de vida destes doentes.

Sendo este um doutoramento no âmbito da Saúde Ambiental, o projecto desenvolvido pela doutoranda Joana Freitas revela a sua pertinência, abordando aspectos da saúde e qualidade de vida humana determinados por factores ambientais, quer sejam eles biológicos ou comportamentais. Propõe-se ainda avaliar o papel de alguns destes factores na fisiopatologia da hepatite C crónica, na progressão da doença hepática e das comorbilidades associadas com vista ao controlo daqueles que poderão ser modificáveis.