Daniel Salvador, doutorando do EnviHealth&Co, investiga a presença de vírus entéricos em águas portuguesas

O projecto de Daniel Salvador, aluno do Programa Doutoral em Saúde Ambiental, EnviHealth&Co, sob a orientação da Prof.ª Doutora Filomena Caeiro (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa), Prof.ª Doutora Fátima Serejo (Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa) e Dr.ª Célia Neto (Laboratório Central da EPAL), enquadra-se na área da microbiologia das águas. Tratando-se de um Doutoramento em ambiente empresarial, Daniel Salvador conta com apoio da empresa de acolhimento Empresa Portuguesa das Águas Livres, SA (EPAL) para a realização do seu projecto.

No actual contexto mundial, em que as doenças infecciosas relacionadas com a água são uma importante causa de morbilidade e mortalidade, é imperativo garantir a qualidade deste valioso recurso natural. Segundo a Agência de Protecção Ambiental dos Estados Unidos, cerca de 500 000 americanos ficam doentes (por ano) devido à ingestão de água contaminada com matéria fecal, que poderá conter desde bactérias, protozoários ou vírus entéricos.

Apesar da Organização Mundial de Saúde e de vários grupos de investigação terem já reconhecido a relevância do consumo/utilização de água como uma das principais vias de transmissão de doenças virais, não existe controlo em muitos países sobre a presença de alguns microrganismos patogénicos na rede de abastecimento pública, nomeadamente vírus. Portugal não é excepção quanto a essa falta de controlo, dado que não há qualquer legislação sobre a presença destes microrganismos nas águas utilizadas para consumo, nem nas águas residuais tratadas para reutilização.

Nesse sentido e de acordo com as Guidelines for drinking-water quality (2017) da Organização Mundial de Saúde, surgiu no Laboratório Central da EPAL, a vontade de aprofundar o conhecimento nesta área de estudo e de incrementar uma maior segurança da água fornecida para o consumidor.

Neste contexto, este projecto de Doutoramento tem como objectivo principal detectar e quantificar vírus entéricos, designadamente enterovirus, vírus das hepatites A e E, em vários tipos de água da região de Lisboa no Laboratório Central da EPAL. Os vírus detectados serão ainda avaliados quando à sua infecciosidade no Laboratório de Virologia da Faculdade de Ciências. Como objectivo secundário, pretende-se avaliar a eficácia dos sistemas de tratamento de água de consumo e de água residual na eliminação de vírus, nas respectivas Estacões de Tratamento.

Após desenvolvimento, implementação e validação do método, a caracterização dos vários tipos de água em relação aos vírus entéricos será realizada através de uma campanha de amostragem que durará pelo menos doze meses. Durante a campanha, serão analisadas e recolhidas as águas naturais não tratadas de um rio e de uma albufeira, águas tratadas de duas Estacões de Tratamento de Água (ETA), e águas residuais de duas Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR). A identificação e quantificação dos vírus serão realizadas pelo método de PCR em tempo real. Técnica altamente sensível e específica que tem vindo a ser cada vez mais utilizada em avaliação do risco microbiológico.

 

 

Sempre que ácidos nucleicos virais forem detectados, a infecciosidade dos vírus será avaliada em linhas celulares por observação de efeitos citopáticos induzidos e por microscopia de fluorescência.

Espera-se com este trabalho contribuir para o esclarecimento e conhecimento da presença de vírus entéricos em vários tipos de água em Portugal. De igual modo, ambiciona-se compreender a eficácia de eliminação de vírus entéricos nos processos actuais de tratamento de água, procurando-se assim aumentar a segurança do sistema de abastecimento e do sistema de saneamento da região de Lisboa. Em última análise, os resultados desse projecto terão um contributo importante para reforçar ou melhorar os planos de segurança da água da EPAL.