Better Science Forum

Março–Julho 2024 | 17h00-18h30 | Online

A ciência constitui um importante activo das sociedades modernas, não apenas como modo de conhecer, de compreender e de imaginar o mundo, mas também como alavanca para o desenvolvimento e aperfeiçoamento de técnicas e tecnologias ao serviço do bem comum. O caso da tecnologia de mRNA, que tornou possível o rápido desenvolvimento de vacinas eficazes contra a COVID-19, é a este respeito exemplar.

Hoje, a decisão do político, do gestor, do técnico, do médico, do magistrado, e de tantos outros, é informada pela ciência. A definição de políticas públicas, a organização da vida coletiva, o planeamento das cidades, a implementação de medidas de saúde pública, a construção de pontes, o desenvolvimento de modelos de intervenção terapêutica ou de governança, depende, em grande medida, da evidência que a ciência é capaz, ou não, de produzir. Talvez, por isso, não seja de estranhar que a ciência beneficie de um elevado nível de confiança pública. Uma confiança que se traduz, de certa maneira, numa expectativa da sociedade em relação à ciência e, muito em particular, ao modo particular como o conhecimento é por ela produzido.

Confia-se, portanto, nesse modo de conhecer, nesse método, justamente porque ele é científico. Ou seja, confia-se na ciência, no conhecimento por ela produzido, porque ela é, em si mesma, confiável. Todavia, essa confiabilidade não advém apenas do reconhecimento público, mais ou menos consciente, de uma assimetria de poder; ela advém, também, do reconhecimento de que os cientistas, nos seus procedimentos, se regem por valores essenciais. É, pois, a regência desses valores reconhecidos que assegura a confiabilidade da ciência e que, por conseguinte, valida o conhecimento como científico.

Entretanto, à medida que se procura consolidar o estatuto da ciência como protagonista qualificado de desenvolvimento social, económico e cultural, senão mesmo de salvação da humanidade, vão surgindo sinais e sintomas vários que revelam um risco real de disfunção do sistema científico. Uma disfunção que ameaça comprometer seriamente a qualidade do conhecimento que é produzido pelo sistema, com repercussão nas decisões e no capital de confiança de que a ciência dispõe e que é fundamental para a coesão social. Tais sinais e sintomas têm vindo a ser interpretados como expressão de uma perturbação causada pela exacerbação de uma lógica de competição num contexto de recursos escassos, e cujo funcionamento depende quase exclusivamente de uma avaliação em alta velocidade do contributo individual de excelência para a ciência. Aliás, uma ciência que tem de ser, também ela, de alta velocidade, redundando em ciclos cada vez mais curtos.

Competição e avaliação em modo competitivo determinam, assim, não apenas o mood, mas também as condições, objectivas e subjectivas, em que se faz ciência. Com efeito, a competição e a avaliação introduzem no sistema uma paralaxe, de natureza burocrática e financeira, que distorce o propósito da ciência, passando este a subordinar-se a uma fórmula de avaliação da excelência dos indivíduos, fórmula essa que Isabelle Stengers descreveu como sendo composta por «conformidade, oportunismo e flexibilidade». Fazer ciência torna-se assim numa actividade burocrática preponderante que tem como objectivo primordial, não a produção de conhecimento útil à sociedade, ou até mesmo de descoberta da «verdade», mas a competição entre cientistas por meio de uma avaliação da excelência do cientista, com base em critérios e fórmulas burocráticas, para que ele se torne ou continue a ser um funcionário.

O BETTER SCIENCE FORUM surge, por um lado, do reconhecimento que, hoje, a sociedade tem uma expectativa, legítima, de uma ciência que produza um conhecimento com um alto valor social e ambiental, vinculada a valores, nomeadamente, honestidade, independência, imparcialidade, objectividade, rigor, respeito, reprodutibilidade e responsabilidade; por outro lado, surge da vontade e da necessidade de capacitar a comunidade científica (#toolbox) e de refletir criticamente (#out-of-the-box) sobre alguns aspectos relevantes e actuais relacionados com a prática científica, proporcionando para o efeito um espaço seguro e livre de partilha de ideias e experiências.

Programa

05.Mar

#toolbox

Autorias | Susana Magalhães, i3S

19.Mar

#out-of-the-box

Inteligência artificial generativa na investigação: como ter um assistente de investigação que está sempre pronto a colaborar? | António Lopes, ISCTE-IUL

02.Abr

#toolbox

Acesso aberto | Cátia Teles e Marques, FPUL

16.Abr

#out-of-the-box
Investigação aberta | Antónia Correia, UMinho

30.Abr

#toolbox

Plano de gestão de dados | Pedro Príncipe, UMinho

14.Mai

#out-of-the-box

Cibersegurança | Bruno Castro, VisionWare

28.Mai

#toolbox

Publicações predatórias | Ricardo R. Santos, ISAMB/FMUL

18.Jun

#out-of-the-box

Avaliação | por definir

02.Jul

#toolbox

Think. Check. Submit. | Susana Oliveira Henriques, ABI/FMUL

16.Jul

#out-of-the-box
Peer review | Daniela Saderi, PREreview

Inscrições

As inscrições são gratuitas, mas obrigatórias. Todas as sessões irão decorrer na plataforma Zoom. Algumas sessões decorrem em língua inglesa.

Organização

Instituto de Saúde Ambiental, Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
Área de Biblioteca e Informação, Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa

Coordenação

Ricardo R. Santos (ISAMB/FMUL)
Susana Oliveira Henriques (ABI/FMUL)
Susana Magalhães (i3S)