Associação entre o desalinhamento circadiano, a saúde e a produtividade

Sara Madeira é médica de Medicina Geral e Familiar e aluna do Doutoramento EnviHealth&Co. O projecto de tese que se encontra a desenvolver procura compreender a associação entre desalinhamento circadiano e vários indicadores de saúde em colaboradores de um armazém de distribuição alimentar.

Sabe-se que a fisiologia dos organismos terrestres apresenta uma ritmicidade interna que permite a optimização dos sistemas biológicos em relação às 24h do ciclo dia/noite (ritmos circadianos). A preferência de algumas pessoas por um horário mais matutino ou mais tardio decorre das particularidades desse relógio interno e a essa característica chama-se cronótipo. Quando os compromissos sociais impedem que se durma no “horário biológico” pode dizer-se que existe um desalinhamento circadiano. As consequências agudas deste síndrome são claras quando se experiencia o efeito de jetlag. No entanto, as consequências da vivência do desalinhamento circadiano de forma crónica, por exemplo por trabalhadores por turnos, apenas têm sido investigadas nos últimos anos. A evidência disponível tem sugerido consequências ao nível da mortalidade, doença cardiovascular, metabólica, oncológica entre outras. Sendo que o trabalho por turnos é uma realidade para cerca de 30% dos trabalhadores nas sociedades modernas, estudar formas de mitigar os seus efeitos na saúde é um imperativo da medicina moderna. Uma optimização dos horários de trabalho, adequados ao cronótipo individual, poderá ser uma estratégia empresarial inovadora com consequentes melhorias tanto na saúde como na produtividade, a curto e a longo prazo, dos trabalhadores.

O projecto de tese de doutoramento da Dra. Sara Madeira tem por finalidade aumentar o conhecimento relativamente às consequências para a saúde e para a produtividade laboral de viver “desalinhado” em termos de ritmo circadiano. A população em estudo são os operários que trabalham em turnos fixos, num armazém de uma grande empresa na área da distribuição alimentar. A equipa de trabalho inclui o Professor Doutor Carlos Santos Moreira, especialista em Medicina Interna, a Professora Doutora Teresa Paiva, neurologista e especialista em Medicina do Sono e o Dr. João Boavista, especialista em Medicina do Trabalho.

Neste projecto, a avaliação de saúde focar-se-á nas queixas álgicas músculo-esqueléticas, sintomas psicológicos, factores de risco cardiovasculares e qualidade de vida. O projecto inclui ainda o estudo do Questionário de Munique como instrumento para avaliar o desalinhamento circadiano na população portuguesa, bem como uma revisão sistemática acerca do impacto do desalinhamento circadiano em termos de queixas álgicas.